Este blog e todos os outros da minha pena não respeitam, deliberadamente, o acordo ortográfico de 2011
Rua da Sofia, uma rua com história
Uma rua que nasceu antes das casas
Octávio Pereira Ribeiro
Julho de 2020
Rua da Sofia
Rua de Santa Sofia
Património da Humanidade
A Rua da Sofia, inicialmente baptizada como "Rua de Santa Sofia", foi pensada e mandada rasgar por D. João III na altura em que o monarca e o Mosteiro de Santa Cruz pensaram fazer a transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra.
A ideia inicial seria fazer aqui nascer o "campus universitário"
Foi, pois, em torno da Rua de Santa Sofia, a artéria urbana consagrada à Sagrada Sabedoria, que as diversas Ordens Religiosas nacionais ergueram e sustentaram alguns dos mais importantes colégios, instituições responsáveis pelo contínuo afluxo de estudantes naquela instituição universitária através da administração de um ensino que hoje chamaríamos de preparatório.
Junto do Mosteiro de Santa Cruz, reformada nos princípios do século XVI, viria assim a constituir-se o primeiro núcleo da rede de colégios, onde a ciência, a espiritualidade e um conjunto de valores pedagógicos e culturais floresceram no campo de acção e intervenção da Universidade de Coimbra durante cerca de três séculos
A Coroa decidiu pela construção de uma unidade colegial laica, ainda que a funcionar por um breve período de tempo: o Real Colégio das Artes.
Esta rua romperia do Largo de Sansão (1) para NO por terras pertencentes ao Mosteiro de Santa Cruz, tendo para a esquerda o velho casario de ruas e casas da Baixa e para a direita o sopé das terras da colina de Montarroio e da Conchada com cota altimétrica entre os 20 e 23 metros, seguia mais ou menos paralela ao Rio Mondego e para além do mais ficava meia protegida das cheias do Mondego que desde sempre inundavam as velhas e tortuosas ruas da Baixa de Coimbra.
Abria-se assim uma nova saída do burgo no sentido NO, que no período medieval era exclusiva da Rua Direita, (na altura conhecida como Rua da Figueira Velha) e que a partir do século XVI passa preferencialmente a fazer-se pela Rua da Sofia que ao fundo dos seus 460 metros terminava com uma cerca/muralha rasgada pela Porta de Santa Margarida que dava entrada ou saída à população e, que para além proteger a urbe, servia para cobrar a portagem de quem vinha do Norte
A Rua da Sofia foi desenhada a partir do modelo da Sorbonne, em Paris, que inicialmente teve o traço de Frei Braz de Barros e como construtor Diogo de Castilho (construtor da Igreja de São João das Donas (Mosteiro de Santa Cruz) Colégio do Carmo, Colégio da Graça, Colégio das Artes, Colégio de São Tomás);
Até então, Coimbra, era uma cidade de ruas tortuosas e estreitas tanto na Alta (Acrópole do saber Lusitano) como na Baixa.
A Rua da Sofia à época, século XVI, foi considerada uma das maiores e mais significativas ruas de toda a Europa e esteve desde o início ligada à Universidade,
A saída do burgo, para NO, que no período medieval se fazia pela Rua Direita (conhecida por rua da Figueira Velha), passa, a partir de agora e preferencialmente a fazer-se pela Rua da Sofia
Encostada à colina construir-se-iam os Colégios Universitário e, em frente destes e do lado esquerdo, casas para os docentes, funcionários, estudantes, ideia que foi completamente ultrapassada com o decorrer dos anos.
Foi permitida a construção a particulares mas tinham que obedecer a um esquema geométrico de 6 braças (13,2m) tanto de comprimento como altura.
Do lado esquerdo e fugindo à regra construíram-se três Colégio: São Boaventura (1543), São Domingos (1558) e São Tomás (1550)
Desenhada com uma largura de 12,5 m por 460 m de comprimento e uma volumetria de 3 pisos e claustros conventuais de 2 pisos.
À época era a rua mais larga de Portugal.
(1) Este rossio, actualmente -Praça Oito de Maio- teve várias denominações de origem popular até ao século XIX.
Apelidou-se de “Terreiro de Santa Cruz”, “Sansão”, “Terreiro de Sansão”, “Praça de Sansão” e “Largo de Sansão”.
O topónimo “Sansão” advém da existência de um chafariz com esse nome que continha a estátua de Sansão ao centro, (colocada em 1592), localizado mais ou menos em frente à parte norte do mosteiro de Santa Cruz e mandado construir pelo 19º Prior do Mosteiro, D. Afonso Martins.
A Rua da Sofia, da palavra grega para Ciência ou Sabedoria, consolidou definitivamente a cidade de Coimbra como centro cultural e polo universitário nacional. Foi rasgada em 1535, como artéria de invulgar amplitude e regularidade para a época, configurando provavelmente uma das maiores ruas da Europa coeva. A Rua da Sofia destacava-se entre a malha apertada e sinuosa das ruelas e becos envolventes, destinando-se a abrigar, desde o primeiro momento, os colégios da Universidade, que D. João III fazia regressar a Coimbra, instalando os edifícios principais no Paço Real. Esta nova e monumental estrutura urbana conferia uma simbólica muito particular à instalação das escolas, realizada a partir de 1537. Deste então, e até à actualidade, a história e a vida da cidade permaneceram intimamente ligadas à Universidade. No entanto, e apesar do dinamismo que esta estrutura criou e sustentou, a Rua da Sofia permaneceu durante séculos relativamente afastada dos ritmos urbanos tradicionais, como verdadeira "cidade universitária" e rua nobre, em torno da qual se mantinha um bairro ocupado por estudantes, e aberta ao comércio vulgar apenas a partir do século XIX .
COIMBRA SÉCULO XVI
Ilustris civitatis Conimbriae in Lusitania
Georg Hoefnagel
Esta estampa é a mais antiga de Coimbra — 1566/67
Ilustris civitatis Conimbriae in Lusitania/ ad flúmen Illundam effigie Georg Hoefnagel
quinto volume da obra Civitatis Orbis Terrarum, publicado em 1559
Gravura entre 1566 / 67
Com a transferência da Universidade para Coimbra (D. João III, 1537) houve um aumento muito significativo da população que se alargou ao aumento do espaço urbano como se pode testemunhar ao comparar a estampa de Gerog Hoefnagel e a gravura de Pier Maria Baldi (século XVII)
A história de Coimbra, a partir desta data passa a girar à volta da sua Universidade com forte expansão para além das suas muralhas, hoje praticamente inexistentes, tal foi a sua destruição e aproveitamento de materiais para outras obras,
Com a presença de grande número de estudantes a que se juntavam os muitos que procuravam os colégios para nelas se matricularem a que se juntavam funcionários, docentes, e todos aqueles que para ali se dirigiam à procura de melhores condições de vida que o mundo campestre não oferecia o crescimento de população era notório e vai continuar com a Reforma da Universidade pelo Marquês de Pombal.
A Universidade de Coimbra possuía foro próprio e cadeia para julgar e condenar professores, estudantes e funcionários.
Rua da Sofia - Coimbra século XVI
Pormenor da Estampa de Georg Hoefnagel
A Universidade de Coimbra foi responsável pela formação de gerações de letrados que integraram as elites políticas portuguesas entre os séculos XVI e XIX.
Sua instalação em Coimbra em 1537 promoveu a formação de uma identidade específica da cidade, impactando sua configuração espacial.
COIMBRA SÉCULO XVII
BALDI, Pier Maria (1630—1686)
Pintor e arquitecto florentino, acompanhou Cosme de Médicis na viagem que este empreendeu pela Europa, incluindo Portugal e que documentou com desenhos e pinturas das terras visitadas, obra de dois volumes que documenta de modo precioso as principais povoações do século XVII
Cronologia dos Colégios Universitários de Coimbra
1527 Mosteiro de Santa Cruz (reforma) (fundado em 1131 pela Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho com apoio de D. Afonso Henriques e D. Sancho I)
1535 Colégio de São Miguel
1535 Colégio de Todos-os-Santos
1537 Universidade de Coimbra (refundação)
1539 Colégio de São Tomás
1540 Colégio de Nossa Senhora do Carmo
1540 Colégio de São Pedro
1542 Colégio das Onze Mil Virgens ou de Jesus
1543 Colégio de Nossa Senhora da Graça
1545 Colégio de São Bernardo ou do Espírito Santo
1545 Colégio de São Domingos
1548 Real Colégio das Artes
1548 Colégio de São João Evangelista ou dos Lóios
1549 Colégio de São Jerónimo
1550 Colégio de São Paulo Apóstolo
1550 Colégio de São Boaventura ou dos Pimentas
1552 Colégio da Santíssima Trindade
1552 Colégio Novo, de Santo Agostinho ou da Sapiência
1555 Colégio de São Bento
1566 Colégio de Nossa Senhora da Conceição, de Tomar ou de Cristo
1572 Colégio dos Franciscanos Calçados, dos Terceiros ou dos Borras
1602 Colégio de Santo António da Pedreira
1603 Colégio de São José dos Marianos
1615 Colégio dos Militares
1616 Colégio de São Boaventura
1707 Colégio de Santo António da Estrela
1755 Colégio de Santa Rita, dos Agostinhos Descalços ou dos Grilos
1779 Colégio de São Paulo Eremita
A Negrito — Colégios da Baixa
COLÉGIO DAS ARTES
Colégio das Artes resultou da transformação por volta de 1547 de 2 colégios crúzios; São Miguel e de Todos os Santos (ambos pertença do Mosteiro de Santa Cruz) com ligação tanto para a nova Rua da Sofia como para o velhinho Largo de Sansão
Em 1566 determina-se a mudança do Colégio das Artes para o Colégio da Companhia de Jesus (a Inquisição entrou em Portugal em 1536 - D. João III) , em 1568 a Companhia de Jesus muda-se para edifício próprio no Largo da Feira.
COLÉGIO SÃO BERNARDO
ou do Espírito Santo
Pertencia aos «Monges Cistercienses», começou a ser construído o no ano de 1545 ... mas só foi fundado em 1550, e patrocinado pelo Cardeal Infante D. Henrique ...
Aqui se instalaram os monges universitários da Ordem de S. Bernardo.
Em 1838, no corpo norte do Colégio optou-se pela construção de uma residência apalaçada, de gosto neoclássico
Do antigo colégio restam os claustros o que é muito pouco e hoje é propriedade particular
Obs - O rico acervo documental do Colégio de São Bernardo foi encontrado no Mosteiro de Santa Crus escondidos em 5 caixões de madeira
COLÉGIO DO CARMO
Colégio de Nossa Senhora do Carmo
Colégio de Nossa Senhora do Carmo foi fundado em meados de 1540. decorreu em duas fases distintas, ambas efectivadas na centúria de Quinhentos.
Construído em 1541 pelo bispo do Porto, Frei Baltasar Limpo, para residência de clérigos que desejavam frequentar a Universidade.
A primeira corresponde à construção dos dormitórios, claustro, igreja e outras dependências fundamentais para a acolher a comunidade, entre 1540 e 1548; a segunda à conclusão da igreja colegial e à reedificação do claustro, entre 1597 e 1600.
Em 1547 foi doado à Ordem dos Carmelitas Calçados.
Com o encerramento em 1834, a Ordem Terceira de S. Francisco obteve, em 1837, a propriedade da igreja colegial e, em Abril de 1845, do restante complexo.
Hoje é um Hospital Asilo
COLÉGIO DA GRAÇA
Colégio de Nossa Senhora da Graça
Estabelecido em 1543 por Frei Luís de Montoia para a Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho. A planta do edifício (do arquitecto Diogo de Castilho) foi o protótipo para os futuros colégios monásticos da cidade.
Por carta régia, o Colégio é incorporado na Universidade em 1549.
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o edifício passou para a Irmandade do Senhor dos Passos e para o Colégio do Exército.
Hoje é um Quartel Militar.
Foi na Baixa da cidade, na Rua da Sofia que a História da Universidade se escreveu a partir da transferência definitiva para Coimbra em 1537.
Uma rua que rasgou o medievalismo urbano para se tornar num eixo absolutamente moderno para a sua época.
Ao todo, 27 colégios deram vida a Coimbra
Sete deles mantêm-se como testemunhos actuais da História da Universidade e da Rua da Sabedoria
COLÉGIO SÃO PEDRO dos TERCEIROS
Colégio de São Pedro - Rua da Sofia
Colégio de São Pedro - Estabelecido em 1540 pelo bispo de Miranda, Dom Rodrigo de Carvalho, para que 12 clérigos pobres mirandeses pudessem estudar. O edifício na Baixa foi construído entre 1543 e 1548.
Em 1572, El-Rei Dom Sebastião I concedeu a este Colégio o edifício junto à Alcáçova Real (a Sul do que é hoje a Porta Férrea), passando o Colégio de São Pedro a usufruir de dois edifícios, um na Baixa, outro na Alta.
O edifício da Baixa acabou por passar para a Ordem Terceira Regular de São Francisco (frades Franciscanos Calçados ou frades Terceiros, vulgo "Borras").
Na Alta, o Colégio destinava-se a doutores e licenciados para estágio via ensino, ou seja, para quem após completados os estudos pretendia ser lente na Universidade mas ainda não tinha lugar.
No seguimento da extinção das Ordens Religiosas, o edifício colegial, incluindo a igreja e a cerca, acabaria, em 1869, como propriedade particular.
Foi adquirido em 1877 pelo Asilo de Mendicidade de Coimbra, hoje Casa de Repouso de Coimbra.
Em 1931 Casa de Saúde de Coimbra
IGREJA SANTA JUSTA
Inicialmente, havia uma primitiva igreja fundada no século XII, ainda antes da independência, no Terreiro da Erva, tendo sido doada à Ordem de Cluny por D. Maurício Burdino, bispo de Coimbra entre 1099 e 1109. D. Maurício era um monge beneditino, de Limoges, em França, que chegou à Península Ibérica em 1095, sendo designado Bispo de Coimbra em 1099, atestando a influência de Cluny e do condado da Borgonha no processo de independência de Portugal. O mosteiro de Cluny era a mais importante abadia medieval naqueles tempos, tendo mantido uma forte influência no território português, principalmente durante o governo do conde D. Henrique de Borgonha, sobrinho do célebre abade Hugo de Cluny.
Nos meados do século XII, essa igreja original passou a ser sede de paróquia, debatendo-se com um gravíssimo problema. Na verdade, o rio Mondego transbordava frequentemente do seu leito, provocando cheias regulares que causavam grandes estragos e incómodos. Ao longo dos séculos, apesar das sucessivas obras de restauro e das vãs tentativas de lutar contra as cheias, foi tomada a decisão de abandonar a igreja na zona baixa e construir outra num local mais elevado, a salvo das cheias. Deste modo, em 1710, dois anos após umas cheias que causaram graves danos, iniciaram-se os trabalhos de construção do novo templo, consagrado igualmente a Santa Justa.
A nova igreja foi sagrada em 1724, inserindo-se já no estilo barroco do reinado de D. João V, época em que, como é sabido, o desafogo financeiro resultante da exploração das minas de ouro brasileiras permitiu estas grandes edificações. A fachada é ainda maneirista, assemelhando-se a um retábulo, destacando-se os janelões e as torres sineiras, bem como quatro nichos que acolhem esculturas de São Francisco, Santa Rufina, Santa Justa e um Bispo.
A fachada da igreja, em estilo dito maneirista, é um bom exemplo da transição do modo renascentista para o barroco, datando dos inícios do século XVIII, do reinado de D. João V, o Magnânimo.
PORTA DE SANTA MARGARIDA
COLÉGIO SÃO BOAVENTURA
Colégio de São Boaventura ou dos Pimentas -
Estabelecido em 1550 pertencente aos Franciscanos Conventuais da Província de Portugal ("Venturas"), depois aos Capuchos de Santo António e finalmente aos Franciscanos do Algarve ("Pimentas").
A existência na Alta de outro Colégio diferente também chamado "de São Boaventura" suscita confusão sobre a distinção entre os dois: que descrição pertence a qual, que datas pertencem a qual?
Só consegui ficar com a certeza de que o da Baixa era o "dos Pimentas" e que foi criado em 1550, e que foi o da Alta que, no século XIX, foi transformado em Museu Antropológico.
COLÉGIO SÃO DOMINGOS
Estabelecido em 1545, funcionou apenas até 1566,
ainda com o edifício inacabado
No século XIII chegam os primeiros dominicanos à cidade de Coimbra por iniciativa das filhas de D. Sancho I, D. Branca e D. Teresa. Arranjado o terreno junto ao rio, o Convento de S. Domingos é fundado em 1227.
Dada a sua localização, este mosteiro era muito danificado pelas cheias do Mondego. Esta situação leva a que D. Manuel I obtenha autorização do Papa Júlio II para que se realize a construção de um novo mosteiro.
É só em 1546 que os religiosos mudam para a Rua da Sofia, mas ficando em instalações provisórias, pois as obras do novo mosteiro encontravam-se ainda em curso.
Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834 passou para mãos particulares
Em meados do século XIX, a igreja veio a ser transformada em central de camionagem garagem e oficina de automóveis
Actualmente é um centro comercial
O que resta da capela-mor da Igreja de São Domingos "foi tal forma desvirtuado e descaracterizado que perdeu as características" que originaram classificação.
Foi desclassificada como monumento nacional em Abril de 2015
O Diário da República n.º 71/2015, Série II de 2015-04-13 desclassifica a «Igreja de São Domingos (capella-mor) inacabada», na Rua da Sofia
Era Monumento Nacional pelo Decreto de 16 de Junho de 1910, publicado no Diário do Governo, n.º 136, de 23 de junho, com a denominação "Igreja de São Domingos (capella-mor) inacabada".
COLÉGIO SÃO TOMÁS
Palacete do Conde do Ameal (1928)
Palácio da Relação (actual séc XX / XXI)
Reconstrução do Palácio do Conde do Ameal e primitivo Colégio de São Tomás (1546)
Claustros (Colégio São Tomás)
O Conde do Ameal evitou a destruição do Claustro e acrescentou
e acrescentou adornos-neo-renascentistas
Colégio de São Tomás - Estabelecido em 1539 perto do rio, transferiu-se para a recentemente aberta Rua da Sofia, por causa das inundações, em 1546. Pertencente à Ordem Dominicana. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, o edifício foi adquirido pelo conde de Ameal, proeminente coleccionador de obras de arte, para o transformar em residência e museu.
Evitou a destruição do claustro onde acrescentou adornos-neo-renascentistas. Afinal tudo acabou em leilão e o valioso recheio do museu foi disperso.
Veio depois a adaptação a Palácio da Justiça, que lhe deu o aspecto imponente que hoje tem.e obviamente, já nada tem a ver com o edifício original quinhentista.
Os portões de ferro forjado da entrada, bem como os lustres e candeeiros do interior, são belos exemplares da serralharia artística de Coimbra do início do século XX
LARGO DE SANSÃO
Longa é a história deste topónimo
actualmente baptizada por
PRAÇA OITO de MAIO
muitas já foram as denominações de origem popular:
“Terreiro de Santa Cruz”, “Sansão”, “Terreiro de Sansão”, “Praça de Sansão” e “Largo de Sansão”.
O topónimo “Sansão” advém da existência de um chafariz com esse nome que continha a estátua de Sansão ao centro, (colocada em 1592), localizado mais ou menos em frente à parte norte do mosteiro de Santa Cruz e mandado construir pelo 19º prior do Mosteiro, D. Afonso Martin
Agora é
PRAÇA OITO de MAIO
desde o dia 8 de Maio de 1874, data em que a vereação da Câmara Municipal de Coimbra e a Comissão Executiva encarregada da celebrar a entrada das força liberais na cidade a 8 de Maio de 1834 (portanto 40 anos depois) descerrava a placa toponímica ao mesmo tempo se perpetuasse a memoria do dia em que as forças liberais do heróico Duque da Terceira, naquela data ali desfilaram
Antes, largo de Sansão, topónimo que derivava da existência de uma fonte com tal invocação, e que surge em documentos desde o séc. XV.
A fonte ou chafariz era ainda visível em 1819, assentando sobre o seu pedestal quadrangular, a estátua do herói bíblico Sansão, atribuída a Manuel Fernandes e datada, pelos estudiosos, de 1592. Esta obra, articulava-se com outro chafariz, dedicado a São João, também ele desaparecido, este situado a Sul e o outro a Norte da praça.
Largo de Sansão - 1840
Aqueduto, Fontes, Chafarizes e Fontanários
A água é e sempre foi, um bico de obra para as povoações
Para resolver os muitos problemas, o Homem construiu pontes, aquedutos e fontes.
Coimbra com o Rio Mondego e o abastecimento às populações não estava fora desses problemas
Uma panorâmica significativamente completa e deveras elucidativa neste âmbito encontra-se no conjunto de obras arquitectónicas erguidas em Coimbra ao longo de todo o século XVI sejam elas de grande envergadura, como o aqueduto e a ponte, ou de pequena envergadura, como os muitos fontanários e fontes
Coimbra sempre foi rica em nascentes
O abastecimento de água fazia-se sobretudo com recurso a fontes / chafarizes / Bicos de Água
Algumas das muitas fontes que ao longo dos tempos abasteceram de água a urbe coimbrã
Fonte dos Judeus - provavelmente Afonsina (1331)
Fonte da Madalena - século XVII
Fonte da Bica - junto ao colégio de São Miguel
Fonte da Torre de Santa Cruz (mais tarde Fonte da Cadeia)
Chafariz da Praça de São Bartolomeu
Fonte da Sé Velha
Fontanário central do Claustro do Mosteiro de Santa Maria de Celas
Fonte dos Bicos no Largo da Feira dos Estudantes
Fonte da Nogueira, Jardim da Sereia
Jardim da Manga
Fonte de Santana
Aqueduto de São Sebastião
Dois oragos: São Sebastião e São Roque
Sendo que o abastecimento à cidade era feito, desde o tempo dos romanos por um cano que captava água entre a colina do Convento de Santa Teresa e o Fontanário dos Bicos e sobre o qual D.. Sebastião lançou o Aqueduto de São Sebastião, popularmente conhecido como "Arcos do Jardim"
ARCO DE HONRA
Arco de São Sebastião (Face Sul)
Na outra face aparece um nicho com a imagem de São Roque
ARCO DE HONRA
Arco de São Roque
Mas o trabalho de D. Sebastião não foi fácil pois os Cónegos Regrantes (Santa Cruz) detentores de grande parte das nascentes urbanas chegaram mesmo a excomungar os oficiais desembargadores para impedir o avanço das obras.
Para a captação da água tinham mesmo que entrar nas terras do Mosteiro, derrubar cercas, cortar arbustos e construir torres
As nascentes mais importantes estavam localizadas junto ao Colégio de Tomar, mais tarde, séc. XIX, sobre ele se construiu o edifício da actual Penitenciária de Coimbra.
Também a Fonte da Nogueira, no Jardim da Sereia, era uma das principais fontes de abastecimento do aqueduto, aqueduto que ficou com cerca de um quilómetro de comprimento
Abasteceu a Alta desde 1560 e só foi desactivado em 1942 a quando da construção da Cidade Universitária. Uma grande parte destas fontes eram abastecidas pelas nascentes do Jardim da Sereia
Hoje restam apenas 21 Arcos. Mas nem tudo foi mau, destruídos que foram alguns arcos também em compensação outros junto à entrada do Jardim Botânico foram limpos dos edifícios que lhes estavam adossados
Os Arcos do Jardim continuam a ser hoje um dos emblemas da cidade
ESTATUTOS da UNIVERSIDADE de COIMBRA
Estatutos 1591
1309 - Primeiros - D Dinis
1431 - Segundos - reinado de D. João I
1503 - Terceiros - reinado de D. Manuel I, primeiro protector da Universidade eleito
pelo corpo docente da Universidade
1559 - Quartos - reinado de D. Sebastião
1591 - Quintos - reinado de Filipe
1772 - Estatutos Pombalinos, reinado de D. José I
1911 - Novos Estatutos
1989 - Estatutos actualmente em vigor - DR 1ª Série N 197 de 28-8-89
2004 - Primeira alteração - Despacho Normativo Nº 30/2004
2008 - Novos Estatutos
SELO
O "selo" representa a Sapientia coroada, em pé, com um livro aberto na mão esquerda, e um ceptro terminado em esfera armilar na direita. No chão encontram-se alguns livros e um crivo, do lado direito e um mocho do lado esquerdo. Este conjunto está enquadrado por um pórtico gótico e tem à volta na metade inferior a legenda INSIGNIA VNIVERSITATIS CONIMBRIGENSIS
Hoje, a Universidade de Coimbra conta com oito Faculdades
Letras, Direito, Medicina, Ciências e Tecnologia, Farmácia, Economia, Psicologia e Ciências da Educação, Ciências do Desporto e Educação Física
e 3 POLOS UNIVERSITÁRIOS
Polo I —Reitoria, Serviços Administrativos, (Edifício Histórico), Faculdade de Direito, Capela São Miguel, Biblioteca Joanina, Sala dos Capelos
Polo II— 1992 Polo de Engenharia
Polo III— 2001 Polo das Ciências da Saúde
Torre da Universidade
A torre tem 4 sinos
* Cabra - Do lado Oeste de 1741 , refundido em 1900 -- Virado para a Baixa
* Cabrão - Virado a Este datado de 1824
* Balão - O maior, datado de 1561 e virado a Norte
O "pequenitatis" virado Sul
OS SINOS
Cabrão - Sino matutino (início das aulas)
Cabra ~Sino vespertino (Fim das aulas)
Balão - Sino de solenidades
Pequenitates - Quarto sino mais pequeno e que acompanha os outros toques
O quarto de hora académico
O batimento das horas estava 15 minutos atrasado em relação à hora legal, era o chamado "quarto de hora académico" 15 minutos de tolerância, tendo em conta "premiar" os estudantes mais preguiçosos, e não eram poucos, pois desde os tempos medievais sempre foi bem conhecida a vida boémia destes "bons" escolares. (Ainda hoje há de tudo.)
Actualmente com a modernização, os badalos já desapareceram e foram substituídos por toques mecânico e automatizados
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D, PEDRO - DUQUE DE COIMBRA
E O CAMPUS UNIVERSITÁRIO
D. Pedro, Duque de Coimbra
Painéis de S. Vicente
-- O Infante das Sete Partidas --
Em 1426, o infante Dom Pedro, 1.º duque de Coimbra, escreveu, de Bruges (1426), uma carta ao seu irmão, o infante herdeiro Dom Duarte, na qual o aconselhava a criar um conjunto de colégios orbitando a Universidade, à semelhança do que acontecia em Paris e em Oxford (e também em Cambridge, Toulouse, Bologna, e Montpellier. Esses colégios deveriam ser criados pela Universidade (nas 5 ou 6 igrejas que já lhe pertenciam), pelos bispos (para escolares das suas dioceses) e pelas ordens religiosas (menciona em particular os dominicanos, os agostinhos e os cistercienses).
Ao todo queria Dom Pedro 10 ou mais colégios universitários, tanto para ricos como para pobres (mas os ricos pagariam a sua estadia do próprio bolso). Os escolares colegiais deveriam dormir cada um em sua cela, tomar as refeições todos juntos e respeitar uma clausura (isto é, que cumprissem horários rígidos, incluindo a proibição de sair à noite), tudo como se fazia nos mosteiros; deveriam ser regidos por um mestre e ter um capelão que lhes desse os sacramentos. Tudo isto teria o objectivo de produzir bons eclesiásticos "e asy creçerião os leterados e as sçiençias"
Na prática, nem o rei Dom Duarte I (rei 1433-1438), nem o próprio Dom Pedro quando foi regente do reino (regente de facto 1439-1448) implementaram quaisquer colégios universitários. Apesar disso, é interessante notar que Dom Pedro se interessou mesmo pelos estudos em Portugal, de tal maneira que em 1443 fundou em Coimbra uns Estudos Gerais, paralelos aos de Lisboa, doando-lhe bens e rendimentos, mas não sobreviveram à morte do seu patrono em 1449
Em 1451, Coimbra volta para o domínio da Coroa
1290 — Fundação dos Estudos Gerais em Lisboa, “Scientiae thesaurus mirabilis” D. Dinis
Bula do Papa Nicolau IV (1)
1308 — Transferida para Coimbra
1309 — Recebe os primeiros Estatutos (Charta magna privilegiorum.)
1338 — Regressa a Lisboa
1354 — Novamente transferida Para Coimbra
1377 — Volta Para Lisboa
1431 — Segundos Estatutos outorgados por D. João I
1443 — D. Pedro, Duque de Coimbra fundou em Coimbra novos Estudos Gerais (*)
1537 — Fixada definitivamente em Coimbra—D. João III
1503 — D. Manuel outorga os terceiros estatutos (2)
1544 —Todas as Faculdades se reúnem nos Paços da Escola
1559 — D. Sebastião concede os quartos Estatutos
1559 — Fundada a Universidade de Évora
1591— Filipe I outorga os sextos Estatutos (os quintos Estatutos nunca entraram em vigor)
1597—Todas as Faculdades ficam instaladas no Paço Real da Alcáçova (Filipe I) (3) e passa a designar-se como Pateo das Escolas
1716-25 — Construção da Biblioteca Joanina
1728-33 — Construção da Torre da Universidade
1772 — Estatutos Pombalinos
1773 - Torre da Universidade (4)
1836 — Fusão da Faculdade de Leis e Faculdade de Cânones na Faculdade de Direito
1911 — Estatutos Republicanos - Novos estatutos
1940 — A UC recebe a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada
1942-69 — Profundas alterações na Cidade Universitária
(demolição de grande parte da zona residencial da Alta)
1989 — Novos estatutos
2008 —Novos estatutos
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(1) Estudo Geral, com as faculdades de Artes, Direito Canônico, Direito Civil e Medicina, reservando-se a Teologia aos conventos Dominicanos e Franciscanos.
(2) A partir de . Manuel os Reis passaram a ter o título de “Protectores”
(3) A partir desta data passou a denominar-se Paços das Escolas
(4) Mandada construir por D. JOÃO v (risco de João Frederico Ludovice)
Relógio com 4 mostradores construído em Paris em 1857 Torre com 34 metros e 189 degraus
(Curiosidade; o relógio andava sempre atrasado 15 minutos para facilitar a vida aos estudantes mais "pontuais")
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(*) Estes Estudos Gerais, paralelos aos de Lisboa não sobreviveram à morte do Duque em 1449
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Bibliografia